Para começar bem: rotina de cuidados diários podem trazer bem-estar e conexão interna
Quem sempre levanta em cima da hora sabe: é preciso muita agilidade para ficar pronto depressa e assim compensar o modo soneca do despertador. Aí, fazemos tudo bem rápido e mal dá tempo para perceber o nosso corpo e a nossa mente. Mas compreender que reservar com calma e consciência alguns minutos da rotina diária de cuidado pode ser transformador para termos um dia mais conectado com a gente mesmo. “Estar em harmonia com o ritmo do nosso corpo e da natureza é o que nos traz equilíbrio e saúde”, diz a instrutora francesa Elisabeth Jaeger, que me ensinou algumas práticas do dinacharya, ou “rotinas diárias” de cuidados dentro do ayurveda, um sistema de medicina indiana. A proposta é que os 20 ou 30 minutos que dispensamos através dessas práticas sejam uma maneira de “fluir com a vida em um novo dia que começa”, não gastando nossa energia desnecessariamente. Elisabeth explica que somos regidos por cinco elementos – espaço, ar, fogo, água e terra. E, dentro do ayurveda, existem os doshas, três perfis biológicos que formam cada um de nós: vata (ar e espaço), pitta (fogo e água) e kapha (água e terra). Todos carregam os três doshas em combinações diferentes, fazendo cada um ser único em suas características físicas, emocionais e mentais. Aí, a ideia dessa medicina que acumula cerca de 8 mil anos de estudos é equilibrar os nossos doshas para termos mais saúde e harmonia. E o dinacharya é um conjunto de práticas de cuidado para ajudar nesse processo ao longo do dia. Meus doshas predominantes são vata e pitta e, através das características de cada tipo eu compreendi, por exemplo, porque o tempo seco ou o calor me incomodam tanto. Ou porque tenho mais disposição de manhã do que à tarde. “As doenças são na verdade um sinal de desequilíbrio. Assim, é preciso fazer os ajustes com o uso das qualidades dos elementos opostos”, observa Elisabeth.
A primeira coisa a se fazer, ao começar o dia, é urinar e evacuar. Depois, o passo é limpar a língua com um limpador de cobre, porque nela ficam toxinas que não nos fazem bem. Depois da raspagem, vem um bochecho de 20 minutos com óleo de coco. Depois do bochecho é que se escova os dentes. Outro ponto interessante do dinacharya está relacionado à importância de lavar bem o nariz. “Vinte por cento do prana, a nossa energia vital, é digerida pelos sinos e vai para o cérebro”, observa Elisabeth. “Misture um litro de água morna com duas colheres de chá de sal marinho em um limpador nasal para fazer a lavagem. Depois pode umedecer as narinas com ghee ou óleo de gergelim”, ensina. Achei bem surpreendente como minha rinite alérgica melhorou depois disso. Elisabeth também ensinou a fazer uma breve massagem no corpo, que é também uma forma de despertá-lo e acolhê-lo com carinho para começar o dia.
A princípio, algumas práticas parecem complicadas por serem tão distantes da nossa rotina habitual. Mas, aos poucos, percebi que elas fizeram bem para o meu corpo e também para algo mais interno meu, que é essa consciência de olhar com mais conexão para o dia que começa. É estar mais desperto não só para a jornada diária, mas também para essa presença que permite que a vida flua com harmonia.
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Texto: Débora Zanelato
Texto publicado na edição de agosto de 2017 da Revista Vida Simples
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